A ORAÇÃO Á LUZ DO TESTEMUNHO DE JESUS
              O amor é 
                o que vale mais que todo o resto, pois dele deriva o valor do 
                que somos e fazemos. (1 João 4,7) Eis a razão: o 
                amor é a vivência confiante e solidária da 
                relação de pertença que caracteriza o mistério 
                de Deus e de sua Criação. Tudo e todos estão 
                interligados: não há isolamento na natureza nem 
                egoísmo na criação. Fazemos parte de uma 
                só "Família" , na inter-conectação, 
                e Deus mesmo é comunhão.
               Em nós e 
                a nosso redor, há uma densidade relacional masculino/feminino; 
                individual/social, objetivo/subjetivo; imanente/transcendente, 
                em que, no menor, ressoa algo do maior e a parte se revela portadora 
                da presença do todo. Em tudo e todos, há uma íntima 
                essência-benefício que há de partilhar-se.
               A pessoa, que reza, 
                dispõe-se a um procedimento que nada tem a ver com um punho 
                que, na aflição, se fecha; antes, quer parecer com 
                uma flor que, dadivosa, se abre. Ela solta e tritura fatos e palavras, 
                atitudes e sentimentos para que libertem sua íntima essência, 
                ora no embevecimento de uma criança, ora na seriedade de 
                um artesão, mas sempre com a agilidade de um acrobata que 
                anula toda robotização.
               Na oração 
                temos um instrumento eficaz para não nos deixar aprisionar 
                nas malhas de fatos opressores nem ser esmagados por desafios 
                que amedrontam. Entre a mobilidade da vida e os fatos consumados, 
                a oração nos confere a sensibilidade de um músico 
                que transforma simples tons em harmoniosa melodia.
               Pois bem, a atitude 
                de orar (“os” = boca, e “actio” = ação: 
                agir com a boca = receber e partilhar) ativa uma real "epifania": 
                revelação do divino que, jocosa ou dramaticamente, 
                se infiltra na multiplicidade do cotidiano com o desafio de uma 
                transcendência promissora. A oração visa conservar-nos 
                na ondulação do amor, em que a gratuidade da comunhão 
                constitui a essência em uma fruição doadora.
               A postura de Jesus, 
                perante o Pai e perante a realidade humana, toma forma integradora 
                e significativa na o r a ç ã o, 
                em que expressa e assume sua misteriosa comunhão diante 
                do Pai e dos irmãos. Na oração, Jesus vivencia 
                e assimila o que é e faz: expressa sua união filial 
                (o respirar da alma) e desdobra sua missão reveladora (o 
                partilhar-se na solidariedade), aprofundando a sintonia entre 
                céu e terra, graças ao reconhecimento sereno de 
                que tudo provém da bondade do Pai, no qual criação 
                e humanidade, são um só.
               (Mt. 14,22: Jesus 
                fica sozinho para orar; Lc.5,16: Jesus retira-se e se entrega 
                à oração; João 17: sua grande oração.) 
                Jesus reza, mergulhado na atividade apostólica, para conservar-se 
                sensível à marcha do Reino com suas perspectivas 
                e exigências em que ele quer mostrar-se dócil aos 
                desígnios do Pai.
               (Lc. 3,21: antes 
                do Batismo; Lc. 4,1.ss: para seguir pelo caminho indicado pelo 
                Pai; Lc.6,12: antes de escolher os de Lázaro, que doze; 
                João 14,16: pedir o dom do Espírito para os discípulos; 
                João 11, 41-41: para o povo crer, na ressurreição 
                o Pai o enviou; João 12, 27-28: para cumprir a vontade 
                do Pai e que ele seja glorificado; Lc. 9,29: por ocasião 
                da transfiguração; Lc. 22,32: para Pedro perseverar 
                na fé; João 17, 6-26: pelos discípulos; Mc 
                14,36: para ter força na agonia.)
               A oração 
                de Jesus não se vincula ao Templo e à Sinagoga, 
                pois veio inaugurar um "culto novo" em espírito 
                e verdade (João 4,23). De fato, para ele, todo lugar e 
                circunstância são lugar e tempo de oração.
               (Lc.9,16: sua oração 
                é de louvor- bênção; Lc.10,21-22 e 
                Mt. 11,25: de agradecimento; João 12,27 (Luc. 23,24.34) 
                : de petição, na solidariedade, e Lc. 23,46: de 
                entrega confiante.)
               Parece que Jesus 
                desdobra, na oração, o mistério de sua filiação 
                e de sua missão de revelar o coração do Pai 
                e a dignidade da Criação. Ou seja, também 
                na oração Jesus é consagrado, ao mesmo tempo, 
                Filho do Pai, Irmão universal e Princípio da Salvação. 
                
               (Se é missão 
                nossa testemunhar o mistério de Jesus, devemos orar sempre- 
                Lc. 18,1-8; Lc.21,36; para não nos isolar em fragilidades- 
                Mt.26, 41; Mt. 6,12; para orar “em espírito e verdade”, 
                i. é. a partir da consciência de que o Pai está 
                conosco e envolve nossa vida em seu amor- João 4,23-24; 
                com simplicidade e confiança - Mt. 6,5-13; sem ressentimentos 
                e dispostos ao perdão- Mc.11, 25-26; com humildade- Lc.18, 
                9-14; como filhos confiantes- Lc.11, 9-13; em grupo- Mt.18, 19-20; 
                e em nome ou segundo a inspiração de Jesus- João 
                16, 26-27.)
               Pelo testemunho 
                de Jesus, a oração ensina a respeitar e assimilar 
                a inesgotável e misteriosa ondulação do viver, 
                expondo-nos, criativamente, à admirável cadência 
                renovadora da graça, em que a novidade de caminhos convida 
                que nos inventemos incessantemente.
              *************** 
              GRAÇAS À 
                ORAÇÃO:
              . Avivamos a consciência 
                de pertencer ao Infinito, / .externamos nossa admiração 
                por dádivas partilhadas, / . movemos as asas da fé 
                para um ato de entrega, / . assumimos nossa relação 
                interpessoal com Deus e o próximo, / . colocamo-nos sob 
                o abrigo do amor do Pai, / . inserimo-nos no ritmo do Espírito 
                o, / . aprofundamos relações de comunhão, 
                / . tocamos as raízes do Mistério que envolve tudo 
                e todos;
              . desenvolvemos 
                uma atitude religiosa de ser, / . reconhecemos a vida banhada 
                pela graça onipresente, / . envolvemos os outros na dinâmica 
                da solidariedade, / . subtraímos o ser e agir à 
                fragmentação da multiplicidade, / . impedimos a 
                alienação do próprio núcleo interior, 
                / . criamos condições para superar ambigüidades 
                e contradições, / . em vez de robotizar, sacramentalizamos 
                a realidade, / . deixamos de distanciar-nos da missão que 
                nos cabe, / . desbloqueamos a correnteza vital do amor que redime 
                ; 
              . assumimos, confiantes, 
                a própria pequenez e limitações alheias, 
                / . fazemos prevalecer a ternura sobre a segurança-domínio, 
                / . submetemo-nos aos desígnios de Deus que salva, / . 
                permitimos que o coração assimile o que mais precisa, 
                / . reconhecemos nossa existência no rumo de uma plenitude 
                maior, / . deixamos atrair-nos por um ideal que ainda não 
                alcançamos, / . apropriamo-nos da ótica de Deus 
                e nos devolvemos a seu Amor, navegando em ondulações 
                universalistas.
              ******************* 
                
              Curso-Atualização............... 
                Frei Cláudio.................. 
                Igreja do Carmo / BH