TERROR : DOMÍNIO E SOBREVIVÊNCIA


Definição

Terrorismo (profissional) como ação de hegemonia ou como reação de sobrevivência, é o uso sistemático da violência contra pessoas ou instituições. Supõe a falta de uma valoração comum, o uso do poder a subjugar e explorar, a presença de uma brutal desigualdade e, assim, a experiência de um sofrimento injusto, prolongado e insano. Não há terrorismo organizado sem um poder insensível e injusto ou sem uma situação regional, nacional ou mundial de arbitrariedade com sobrevivência ameaçada. Em um clima de contradições violentas, apela-se à violência para derrubar a (des)ordem existente e impor a (des)ordem sonhada, os fortes usando, hipocritamente, a guerra preventiva, os fracos usando, abertamente, o terror.

Exemplos

Cheira a terrorismo o protecionismo de mercado por parte de alguns países ricos, com sobretaxas, para o prejuízo de países pobres. Terrorismo se gera quando uma minoria da humanidade decide viver às custas da grande maioria. Terrorismo praticam alguns países mais ricos a condicionar o destino de tantos outros países. É terrorismo não dar condições dignas de vida a prisioneiros de guerra, a prisioneiros comuns, a pessoas com fome, a asilados, a pessoas sem acesso a escola, hospital, transporte e emprego; é terrorismo negar dignidade a mulheres, homossexuais, aidéticos, negros, estrangeiros, idosos e a outros sem voz nem vez e expulsar crianças e famílias para a rua. Cheira a terrorismo privar sistematicamente pessoas de seus direitos sociais, impor-lhes discriminação cultural ou/e religiosa.

Cheira a terrorismo o esforço de, apelando a direitos adquiridos, defender salários de marajás enquanto o governo não dispõe de dinheiro para prover as necessidades dos mais carentes. É terrorismo a cobrança de um ritmo desumano de trabalho que rouba descanso, anseios e sonhos de funcionários, deixando-os estressados. É terrorismo a verdade, o poder e a riqueza na mão de poucos, sem condições de sobrevivência digna ou de participação efetiva da maioria. É terrorismo 04 % do povo ter a posse sobre 60% dos bens de um país. É terrorismo a chamada globalização com sua exploração de dívida interna e externa, aumentadas por juros injustos, mantendo numerosas nações em uma vergonhosa relação de dependência no subdesenvolvimento com desastrosas conseqüências, em clima de guerra civil devido a fome, ausência de saúde, falta de moradia com desemprego e violência.

Característica

Todo terrorismo é sintoma e não causa; é cultural quando o direito natural é agredido. Sua natureza é de uma virulência aparentemente insana, porém conseqüente à violência sofrida. Nisso, se revela uma persistente e cruel vontade de excluir multidões do bem comum. A estupidez, filha da ganância, faz combater o terror com terror, o que o alimenta com intolerância persistente

Causas

O terrorismo resulta de uma miséria degradante, de um desequilíbrio do poder que, favorecendo alguns, esmaga povos inteiros. Ele decorre de uma situação de poder concentrado e excludente, de ausência de diálogo, de desinteresse por solução, de prepotência coletiva, de uma cultura de fragmentação, de uma despreocupação por relações justas e fraternas. Há terrorismo quando não há o mínimo de equidade na participação dos recursos da terra e dos bens da cultura, o que, por sua vez, abre caminho ao terrorismo.

Objetivo

Norberto Bobbio assinala: “O terrorismo internacional constitui a única saída aberta para os que não se identificam com a estrutura da ordem internacional existente” (1) . Já foi observado que a atual ordem mundial é revoltante desordem para a maioria da humanidade. A partir disso, o terrorismo pretende vingar a opressão-exclusão, incomodar consciências, denunciar injustiças, agregar pessoas e abrir caminho para um ideal de justiça e de libertação.

Justificativa

Sua justificativa é uma ânsia de poder concentrado e injusto ou um desejo de libertação, legitimados por suposta vocação de liderança, por opressão política, por motivação religiosa, por sonho humanista, por dominação econômica e, nas religiões reveladas, por missão divina.

Formas

O terrorismo apresenta graduações segundo seus motivos, seus objetivos e sua expansão. Ele se reveste de diferentes matizes: racional ou irracional, profano ou sagrado, explícito ou camuflado, ocasional ou sistemático, regional ou global, individual ou coletivo, gratuito ou motivado, alardeado ou dissimulado.

Efeitos

O terrorismo ora gera destruição, ora cria esperança; causa violência, medo, e vingança em espiral; denuncia a inexistência de diálogo e pode suscitar inovação e revisão, provocando rever-se a linha divisória entre bem e mal. Se, primeiro, é conseqüência, passa a ser causa de uma insegurança generalizada.

A mídia

Informa mentindo; relata interpretações ideológicas, veicula acusações levianas, suscita protestos; enfoca pessoas inofensivas, reclama reações de governos, convoca o mundo livre (?) a esmagá-lo, questiona relações de poder, fragmenta a problemática do fenômeno, dificulta a compreensão da realidade, reconhece no terrorismo uma busca de autonomia e insinua ser (im)possível neutralizar o terrorismo pelo poder.

Disseram:

“Os assassinos jamais alcançarão seus fins”. “Não há negociação possível com esses assassinos”. “Seu instinto assassino e sua vontade de submeter a Espanha a seus ditames permanecem tragicamente ativos”. “É um problema político paradoxal porque não tem solução política”. “Somente governos mais humanistas humanizam a convivência”. “Terror contra terror...Nessa direção não há caminho possível”.

Desafio

A cooperação entre países e continentes pode diminuir, mas não, anular o terrorismo. Perigo maior é o desrespeito aos direitos humanos e ao direito internacional. A globalização excludente com sua fome, com seu pensamento e mercado únicos alimenta o terrorismo. Somente o compromisso com o outro serve para construir a PAZ. O terrorismo em pauta desmascara um terrorismo oni / presente e atuante. Somente a construção de relações banhadas por respeito e solidariedade, em clima de leal cooperação, será capaz de tornar inútil e inviável o terrorismo internacional organizado.

“Se os povos seguirem pelos caminhos de Deus, por ele serão conduzidos. Quebrarão suas espadas e as transformarão em arados, e de suas lanças farão podadeiras. Uma nação já na levantará a espada contra outra, e nem mais se aprenderá a fazer guerra.” (Is. 2,4)

Assim diz o Senhor Javé: “Então comereis vosso pão até vos fartardes e habitareis em segurança na vossa terra. Haverá paz e dormireis sem que ninguém vos perturbe. E confirmarei minha aliança convosco”. (Lev. 26, 5-6.9)

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Frei Cláudio van Balen

(1)- BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política, 1983: pág. 1244