Ano Jubilar
Na presente celebração
do novo "Ano Jubilar" como "Ano Santo", o
povo cristão é convidado a reviver e reinterpretar
"O Ano da Graça" do tempo do profeta Isaías
(séc. VI a.C.), lembrado e revivido por Jesus (Lucas IV).
No tempo do assim chamado "1º Testamento", a situação
político-social era caótica (Exílio Babilônico),
com a cidade de Jerusalém arrasada, O Templo destruído,
as instituições desintegradas e o povo humilhado;
e tudo isso sob horizontes pouco promissores.
Nessa clima de "noite escura", o profeta Isaías,
para despertar no povo a esperança, anuncia uma nova aurora,
contando com as iniciativas renovadoras das autoridades que davam
sinal de sensibilidade social e do povo disposto, sob o impulso
da fé, a exercer sua cidadania. Este terreno acolhedor
de sementes haveria de ser sinal seguro de novos tempos. A resposta
do povo possibilitou a fecundidade da graça, sendo Deus
servido por relações capazes de gerar mais justiça,
com liberdade e paz.
No início do chamado "2º Testamento", Jesus
alude a essa experiência do passado a fim de apresentar
sua "plataforma" do Reinado de Deus. Na Palestina de
então havia relações desajustadas que multiplicavam
categorias de explorados com empobrecidos, de mestres equivocados
com discípulos alienados, de líderes acomodados
com cidadãos imobilizados, de visionários enganadores
com adeptos cegados, de políticos insensíveis com
massas humanas amortecidas, de Impérios colonizadores com
povos oprimidos. Jesus anuncia "O Ano da Graça do
Senhor" e convoca todos a uma mudança radical de sentimentos,
valores, atitudes e ideais. Ele mesmo, testado de muitas formas,
desencadeou um movimento de confraternização libertadora;
e isso sob a benção divina com o perdão dos
pecados e paz para todos num clima de universal reconciliação.
Neste ano 2000, num mundo de seis bilhões de habitantes,
onde em cada três cidadãos um sente na carne o efeito
destruidor de relações opressoras, a graça
pede ser acolhida como fermento renovador. Sob o lema "Abri
a Porta", somos convidados a transpor a noite escura que
nos envolve. O clarão de uma luz poderosa está às
nossas ordens: o Espírito convoca todos através
de mudanças e desafios em todas as áreas da vida
e da história, a Igreja se penitencia pelos erros do passado
e abre-se aos "sinais dos tempos", a globalização
se faz oportunidade para o encontro dos diferentes, os meios de
comunicação ampliam a consciência, cresce
a sensibilidade pelos "direitos humanos", movimentos
de base abrem caminho para a cidadania, a participação
popular humaniza a política e a fé inserida na vida
e se torna fonte de solidariedade. Estruturas estão sendo
sacudidas, religiões questionadas, povos interagem e a
cultura se faz promessa de algo novo e mais condizente à
atualidade.
Se as condições de vida são precárias,
mais que nunca podemos e havemos de colaborar para que empobrecidos
se dignifiquem, cegados descubram novas pistas, imobilizados iniciem
reações, fragilizados busquem a cura e a política
de morte dê lugar à defesa da vida. Estamos no coração
de um novo "Ano da Graça". Estendemos as mãos,
engajemo-nos na esperança do povo e acolhamos a graça
de Deus dando um basta ao desânimo, à indiferença,
à corrupção, à impunidade, a interesses
elitistas. Aprofundemos a nossa Fé, exerçamos melhor
a cidadania e façamo-nos alavanca de uma convivência
mais sadia. O nosso amor há de consagrar o perdão
de muitos pecados. E Deus será bem servido por um povo
mais unido e feliz em um mundo e um Brasil sem tantas exclusões.
* * *
Frei Cláudio Van Balen
Artigo Editado no Jornal CARRILHÃO....