A M O R--
D E-- T O L E R Â N C I A
----------Em
seu lidar, cheio de ternura, com pessoas feridas e humilhadas,
Jesus radicalizava o amor de Deus. Ele protestava contra a rigidez
do sistema religioso e contra a petrificação da
Torá de Moisés, transformada em uma lei opressora.
Na experiência dos discípulos, sua atitude servidora
se fazia mediação da proximidade de Deus e de seu
amor pelas pessoas.
----------Em
vista das necessidades e da vida de pessoas excluídas,
Jesus dispunha de tal liberdade interior a ponto de ousar transpor
os limites da Torá - sem abolir uma só vírgula
de sua essência – para servir à vida e às
pessoas. Ele fazia jus ao cumprimento dos Mandamentos, na realidade
concreta de cada dia e de situações peculiares.
E isso lhe custou caro.
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----------A
linguagem simbólica é o que mais caracteriza a mensagem
bíblica e os discursos de Jesus. Ali, palavras não
se fecham em si. Falam de uma realidade outra. Mais de relações
que de coisas. Mais de sentimentos que de fatos. Mais de algo
interior, de nosso comportamento, de nossa experiência que
de algo só exterior – uma simples comunicação,
informação ou rito
----------A
linguagem simbólica quer fazer entender que a “Boa
Nova” diz respeito a todos nós, a mim, a meu modo
de ser e agir, ao amor que Deus me devota e à missão
que me cabe. Assim, hoje, o leproso, o fariseu, o pecador, etc.,
sou eu. Alguém limitado, contraditório, infiel,
com vergonha de mim mesmo. Pecador, marginal, velho, doente, desempregado,
aidético, homossexual, descasado, deficiente, etc.
----------Tenho
de morar fora, não faço parte, me excluo, sou rejeitado.
Acontece que a fé me resgata para a auto-estima, o amor
fraterno me inclui. O que é proibido, Deus - em Jesus –
me encoraja a fazer : acolher os excluídos, defender os
mais frágeis. É proibido? Posso fazê-lo: acolher
os estigmatizados, tocar os impuros. Sacramentar os aparentemente
indignos.
----------Mais.
O que é ordenado pela lei, devo lembrar: Vá às
autoridades, apresente-se como favorecido pela lei do amor. És
mãe solteira? Dize ao padre: “Eu faça parte”.
És recasado? Diga ao bispo: “Levo vida digna”.
És aidético, drogado, alcoólatra? Diga aos
assustados:” Sou gente, filha(a) de Deus”. Es padre
casado? Diga ao Papa: “Sinto-me chamado a servir o povo”.
----------És
mulher, discriminada? Dize aos que amam o poder: “Deus é
mais amor que poder”. Felizes de nós quando valorizamos
os excluídos de hoje e os reconhecemos como parceiros.
Ai de nós quando os rejeitamos, limitando-nos a falar ou
a escrever bonito sobre o amor. O amor, no que tem de divino,
ninguém o vive de modo perfeito. Somos todos aprendizes.
Sejamos aprendizes.
----------Embora
merecedores de correção, Deus valoriza, em nossos
gestos, o que equivale àquela moedinha nas mãos
de uma pobre viúva. E Jesus lembra e adverte, hoje e sempre:
“A letra” – o só escrito – facilmente
fecha no rigor da lei e mata. Porém, o “espírito”
– a linguagem simbólica – traz vida nova, ligando-nos
ao essencial. Faz o amor triunfar sobre o poder.
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Frei Cláudio van Balen