Três, quatro tijolos,
com um pouco de cimento, O trabalho a ser feito fica por conta
do leitor. Assim são os capítulos deste livro.
A mensagem não vem
pronta nem pré-fabricada. Você pode começar
no começo, no meio ou no fim. Pode pegar este ou aquele
tijolo, para ele ficar na fila de baixo. Tanto faz. Todos eles,
porém, pertencem a casa a ser construída. Assim
é este livro.
A pergunta vem de onde deve
vir: da vida. Nasce da vida como o capim do gramado. De longe,
o gramado tem o aspecto de um verde maciço. De perto, é
feito de milhares e milhões de capinzinhos. Você
pode tirar um ou outro destes capinzinhos. Não altera nada.
Isso não arranca o verde do gramado. A vida é uma
grande interrogação. cuja raiz é o coração
humano. De perto, são milhares e milhões de pequenas
perguntas que emergem dos fatos, tão frágeis como
os capinzinhos do gramado. Responder a esta ou àquela pergunta
não é tão difícil. Mas isso não
altera nada. Com estas respostas ninguém consegue arrancar
o verde maciço da grande interrogação que
gera a esperança e que permanece em pé nas respostas
que damos as pequenas perguntas. A vida não cabe no pensamento
do homem, porque o pensamento é filho da vida. Esta é
a impressão que o livro deixa no leitor.
O livro é
como o jornal. Lendo a primeira linha de ponta a ponta. a gente
passa do Brasil para a China, da América do Norte para
a África, ouve falar das questões econômicas
mundiais e dos problemas políticos locais, é informado
sobre coisas que aconteceram na rua onde mora, e sobre coisas
que aconteceram no outro lado do globo terrestre. Tudo misturado!
O jornal unifica, na superfície do papel, o que está
unido na sua raiz. Tudo brotando da mesma vida e da mesma história,
Assim é este livro. Fala de tudo que a vida apresenta na
sua superfície, de todas as coisas que dão para
rir e para chorar. O livro, porém, vai mais longe do que
o jornal. Com a luz da Palavra de Deus e da reflexão humana,
tenta levar o leitor a penetrar por trás dos bastidores
dos fatos, a fim de buscar lá do outro lado, na raiz das
coisas, a chave que as explique. Não é um comentário
da Bíblia, embora a cite em todos os capítulos.
É um comentário da vida e usa a Bíblia como
deve ser usada: como meio para “decifrar o mundo”.
Lendo o Livro, a
gente fica pequeno diante da imensidade dos problemas que aparecem
na superfície da vida e nos cercam de todos os lados. Fica
mais humilde e menos dogmático, mais compreensivo e mais
tolerante. Menos senhor da sabedoria e mais desejoso de escutar
o que o outro tem a dizer, O livro imita a Bíblia: não
dá resposta, mas procura levantar aquela pergunta que importa
para a vida e que serve de gancho para pendurar a mensagem de
Deus, mensagem que tem como objetivo: “para que tenham
vida em abundância”. (João 10,10).
CARLOS MESTERS
Belo Horizonte, 16 de novembro de 1975
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