TEMPO DE NATAL
O Natal ensina: neste mundo, Deus revela no humano, na história.
Assim, ele revela que o finito é o arcabouço do
infinito. Graças à consciência de que a divindade
se aloja na humanidade, é impossível isolar Deus
do finito e do tempo. Igualmente, é impossível negar
a dignidade de todo ser humano bem como reduzir o corpo à
simples matéria com sua funcionalidade limitada. Em tudo
que nos diz respeito, no espírito e no corpo, atua uma
divina transcendência.
Nessa perspectiva, o Concílio Vaticano II ensinou que
há sementes do Evangelho, faíscas da verdade, germes
da graça divina em todo ser humano e em toda cultura, em
toda religião, através de todos os tempos. Sobre
este princípio fundamentam-se os chamados “Direitos
Humanos”. Todo ser humano é portador de uma dignidade
infinita, a qual se irradia sobre a natureza que, em tudo, há
de ser respeitada. Toda pessoa pertence à natureza, dela
faz parte e
graças a ela subsiste, pode viver neste mundo e tornar-se
o que é.
O mistério da Encarnação anuncia, pelos
quatro cantos do mundo, que o sopro de Deus resulta no Universo
e que o visível é como que a pele de Deus, cuja
morada é toda a Criação. O que, neste mundo,
realizamos com responsabilidade solidária, cuidando bem
das relações, é autêntico culto a Deus.
Caso o governo decida promover a dignidade dos catadores de papel,
dos sem-terra, sem-emprego, sem-casa e sem plano de saúde,
ele gera Deus neste mundo.
Quando cientistas realizam pesquisas que melhoram a qualidade
de vida e quando os tecnólogos melhoram nossas condições
de trabalhar e de morar, de praticar o lazer e de nos relacionar,
então eles praticam a espiritualidade da encarnação.
Quando médicos ajudam a promover a saúde física,
terapeutas melhoram a saúde psíquica e orientadores
dinamizam o equilíbrio espiritual, eles permitem que Deus
mesmo acontece, encarne neles e em todos que beneficiam, a fim
de que encontre uma digna morada nas pessoas.
Bem servido será Deus e melhor ainda a humanidade, caso
o Natal sirva para que todos os povos se conscientizem de sua
divina essência. Esta é a base mais sólida
para que todos se disponham ao diálogo e à cooperação,
em clima de fraternidade. Nenhuma cultura se fará berço
de preconceitos e nenhuma religião se erguerá qual
muro de exclusão. Como em todos a humanidade é a
mesma, no mesmo universo, assim de todos é a mesma dignidade
divina.
Se, no passado, se ensinou que a pessoa humana é um deus
decaído que tem saudade do céu, hoje somos convidados
a proclamar que a pessoa humana não está fatalmente
sujeita à realidade da natureza, da cultura, do corpo,
do espírito e do consumo. Nela, não há somente
um desejo do infinito, mas uma capacidade ilimitada de se transcender
no corpo e no espírito bem como nas relações
que constrói. Sob todos os aspectos, há em nós
uma bipolaridade que nos engrandece. Desde sempre, o infinito
tem sido nossa carne. Celebrar o Natal é renascer.
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Frei Cláudio van Balen