A dignidade cristã tem tudo a ver com a disposição de acolher riqueza espiritual e de inspirar-se na trajetória que Jesus seguiu: revestir-se com a simplicidade de criança que, confiante, não deixa de saborear a gratuidade em tudo, procurando sempre aprender novas lições. Inspirar-se em Jesus e segui-lo implica navegar por elevados sonhos e, quando preciso, arrastar-se no chão duro da realidade. Implica, sobretudo, mergulhar em um sentimento de pertença, em que céu e terra se revelam comprometidos em nos servir.
Seguir Jesus implica
sentir-se estrangeiro no meio dos seus e, passando pelo abandono da madrugada
da Páscoa, aquecer o coração pela certeza do amor do Pai que do mal tira o bem
e sabe transformar morte em vida. Dignidade cristã é dar novo conteúdo ao que
inspirou Jesus na convivência com as
pessoas, no lidar com resistências insanas e no desfrutar da simplicidade do
povo que, embora limitado, não deixa de caminhar.
O que tanto seduzia Jesus a ponto de ultrapassar
caminhos traçados e ir sempre além? O que o fazia levantar-se para ir de aldeia
em aldeia? O que procurava? Havia um Ausente? Alguém mais distante? Um perdido
que o atraía irresistivelmente? Alguém sem nome e sem rosto? Que força motriz o conduzia por entre essas sombras?
Sempre a caminho, ele seguia um direcionamento bem preciso. À busca de pessoas,
ele se dirigia ao mais íntimo de si mesmo. Se não morava de modo fixo, ele se
deixava ser habitado.
Ele se ligava à presença íntima do Pai que o
iluminava e conduzia. E tanto mais se aproximava do Pai quanto mais se dirigia
aos "distantes". E quando, feliz, celebrava o "reencontro",
ouvia os batimentos do coração do Pai. “O Pai e eu somos um” (João 10,30). Agora, seguir Jesus é assumir a
condição de peregrino que se exercita em discernir o chamado divino dentro da
experiência do cotidiano e, no respeito a ele, ensaiar algo novo, respondendo a
apelos para libertar e incluir os sofridos, erguer os caídos e fazer todos
sentirem-se aconchegados na bênção divina.
Seguir Jesus é
viver a Aliança em dimensão de humanidade, cujos povos desfrutam da mesma
bênção; é nunca se apossar da verdade e da santidade, mas inserir-se na
realidade, em que bem e mal, certo e errado, puro e impuro, anjo e demônio,
andam mesclados e de mãos dadas. Seguir Jesus é expor-se às circunstâncias com
suas promessas e ameaças para, na humildade, deixar-se atrair na coragem de ser
com sua oferta de graças que chegam por caminhos insuspeitos. Seguir Jesus é
renunciar a certezas que paralisam, é caminhar.
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Frei Cláudio van
Balen